Tarde seguinte, acordámos, vimos as torres Petronas mesmo ao lado da janela do quarto, fizemos check out e fomos uma vez mais de carrinha para Malaca. Esta viagem de duas horas era algo em contra-relógio, afinal ainda precisávamos de encontrar um restaurante para a noite de Natal.
Quando chegamos ao hotel o problema foi resolvido, havia um jantar de consoada num dos restaurantes do hotel, pelo que sem hesitarmos fizemos logo reserva.
A escolha de Malaca para a noite de Natal não foi em nada aleatória. Existe uma forte componente histórica e uma descendência bastante orgulhosa do seu passado português. Além disso, celebra-se a missa do galo, um costume bem português. Bem, isto é tudo bonito na teoria, mas quando chegamos as coisas são ligeiramente diferentes. Lá chegaremos....
A noite de natal correu com naturalidade, o jantar até foi bom, com cornetas, confetis e pequenas bombinhas ( mais ao estilo do reveillon, mas eles são Malaios, Deus um dia perdoa-los-á) mas claro, faltou o caldo verde, o bacalhau assado, as rabanadas, a lareira e todas aquelas coisas que fazem o Natal um momento único. No final, fizemos uma troca de presentes, no quarto mas sem árvore de natal. Foi falha minha, devia ter pedido uma árvore de natal em cada quarto. O facto de continuar constipado, e com uma tosse irritante não ajudaram a tornar o momento muito marcante.
O dia de natal foi dedicado ao turismo. Partiríamos no dia seguinte pelo que aquele dia não podia ser desperdiçado.
Apesar da tosse, troquei as habituais camisolas, cachecóis e botas, por chinelos, calções e t-shirts e lá fomos nós, na companhia do nosso motorista/guia Zach.
Visitamos o forte, as igrejas todas, o museu marítimo, o forte português, bairro português etc...
Depois de uma manhã/tarde de turismo estava na hora de almoçar.
Já tinhamos reparado que havia uma grande comunidade chinesa em Malaca, mas ficámos terrivelmente surpreendidos quando nos apercebemos que os únicos restaurantes num raio de certo modo próximo do hotel eram todos chineses, ou de fusão com a cozinha chinesa. Obviamente que batemos em retirada e fomos almoçar ao hotel.
Depois de almoço e até à hora de jantar fomos descansar, eu fui mesmo dormir que a minha tosse e constipação já era incomodativa.
O nosso objectivo de Malaca eram as raízes portuguesas da cidade, e até ao momento tinhamos atravessamos 3 ruas do bairro, de carro e de forma relativamente rápida. Era por isso necessário ir mais fundo, e fazer uma aproximação aos luso-descendentes.
Portugal administrou Malaca no Século XVII, e deixou nesse mesmo século a cidade, ainda embora se mantivessem por lá muitos lusitanos. Ora fazendo as contas rápidas, isto foi sensivelmente há 400 anos, por isso conseguem já imaginar o que são os "portugueses" de Malaca. Na realiade são um povo em tudo igual aos restantes nativos, em cor, aspecto, cultura, mas com a diferença de terem minhotas e grupos de rancho. Se em Macau ver um rancho dançado por chineses já era de difícil encaixe, imaginem uma minhota carregada de ouro, com tez morena olhos em bico....
O chefe da comunidade portuguesa além de guitarrista é amigo do nosso guia, e pelas informações recolhidas os dois juntos fazem o grupo " seca pipas" que actua de bar em bar, não com a viola, mas com uma sede inesgotável. Para terem noção, o meu guia dado o estado calamitoso da minha tosse deu-me inúmeras receitas, e apenas uma passou por comprimidos, todas as outras eram à base de álcool. Não experimentei, mas estou arrependido, porque ele de facto não tossia.
Voltando à comunidade "portuguesa"...
Ao longo destes 400 anos, os "portugueses" têm-se dedicado à pesca, ao comércio, embora hoje estejam muito bem integrados na sociedade, ocupando mesmo cargos políticos. Isto é tido como algo de extraordinário, o que eu não percebo bem porquê. Porra, ao fim de 400 anos é o mínimo, até os "avecs" conseguiram mais em 40 anos.
O bairro é algo de pouco dignificante para o nosso povo, eu por mim fazia uma colecta anual e oferecia-lhes, só para que digam que são espanhóis. Em boa verdade, o que deveria e feito era apresentar uma previdência-cautela, com efeitos imediatos, para a designação " portugueses" e claro, pedir uma indemnização por dados causado à imagem de um povo e de um País.
As casa são térreas, vivendas com um pequeno jardim, que contrastam com casas nem sempre tão pequenas. O estilo é claramente piscatório, se houvesse casas com azulejos poderíamos dizer que estávamos na Gafanha ou em Ílhavo.
Nos tais jardins, que propositadamente não oferecem qualquer tipo de privacidade estavam expostos grandes presépios, arvores e outras decorações alusivas ao natal. A intenção pode ser a melhor, mas o gosto é claramente o pior. Supostamente, as casas estão abertas para receber quem queira entrar, em especial os amigos. De facto vimos as portas escanradas, sendo possível apreciar melhor o gosto refinado da decoração, mas não tivemos coragem para entrar em nenhuma. Aliás, no meio daquilo queriamos mesmo passar por espanhóis ou italianos.
Como não podia deixar de ser, fomos aos famosos restaurantes portugueses, comer a famosa comida portuguesa.
O sítio é muito giro, uma praia, na baía, e os restaunrantes encontram-se todos juntos, debaixo de um telheiro, bastante arejado.
Qualquer um dos restaurantes não prima pela higiene, segurança alimentar e todas essas coisas más que a ASAE nos habituou tão mal.
A comida de portuguesa não tinha nada, uns camarões grelhados em manteiga, algo que tinha tanto de saudável como de delicioso. Aliás, chegavam mesmo a ser um pouco enjoativos. Os meus pais, pouco habituados a chinesices não gostaram muito, não percebo porquê?!?!?
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